sábado, 28 de novembro de 2020

Claude Lévi-Strauss (A Origem do Estruturalismo na Psicologia)



Claude Lévi-Strauss 
(A Origem do Estruturalismo na Psicologia)


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Claude Lévi-Strauss fez a primeira aplicação do estruturalismo além da linguística, ele é o maior representante do Estruturalismo Antropológico. Com esta metodologia ele abordou os fundamentos etnológicos dentro da antropologia para explicar a “cultura” e suas representações simbólicas existente em diversas camadas até as estruturas mentais inconscientes.


“O projeto lévi-straussiano é instrumentar os trabalhos realizados por etnográficos e principalmente etnólogos nos estudos antropológicos, em Antropologia Estrutural I, enfatiza que “a realidade empírica, concreta e a escrita não são suficientes para chegar às estruturas, já que há ação de símbolos no consciente e inconsciente humano, em seu entender a finalidade da etnologia é atingir, além da imagem consciente e sempre diferente que os homens formam de seu devir” (Arley Silva Oliveira e Roberto Carlos Amanajas Pena)
Ele empregou o método criado por Saussure para demonstrar que os elementos só adquirem significado quando vistos dentro dessa estrutura. Ele realizou diversos estudos nos povos ameríndios no que ele denominou a busca de “harmonias insuspeitas”, com uma coleção de normas que se repetiam em diferentes culturas (mesmo que não tivesse tido contato direto entre elas), como se estes comportamentos estivessem em um nível inconsciente.

“Cada história é acompanhada por um número indeterminado de anti-histórias, cada uma das quais é complementar a outros.”

Sua três primeiras inspirações e fontes de estudo para o desenvolvimento de seu pensamento foram a Geologia, a Psicanálise e o Marxismo. O que ficou conhecido como as “Três Amantes”. Mesmo depois quando seu pensamento tenha ido além, eles são os pilares de seu pensamento. Da geologia ele herdou os modelos interpretativos, do buscar as respostas em pequenas fendas que possam contar uma história antiquíssima. Da Psicanálise ele estudou e trouxe para a Antropologia estrutural o Inconsciente difundido por Sigmund Freud. No pensamento marxista ele trouxe a crítica a civilização ocidental, além da organização de informações sobre essa mesma sociedade para tentar compreendê-la. Nos três pensamentos podemos observar que olhamos para o Ontem com seus diversos fragmentos, para entender o Hoje.

No livro o “pensamento Selvagem” de 1970 a antropologia estrutural é apresentada como um método de tentar entender a história de sociedade que não possuem aparatos de registros escritos, por isso, o objeto de estudo são os processos inconscientes, seus signos e representações.

“O pensamento selvagem, que o projeto do Bricoleur se caracteriza por trabalhar com as mãos, a operar com os materiais fragmentados já existentes, ele se volta para os resíduos de obras humanas, ou seja, para um subconjunto da cultura como bem diz (LÉVI-STRAUSS, 2012, p. 36). “

Bricoleur, ou seja, Bricolagem, o que entendemos hoje por DIY (Do It Yourself), o “Faça Você Mesmo”. Para o pensamento de Strauss, a antropologia tem esse aparato primário, como uma fundação que ligará todas as demais ciências. E assim tenta facilitar uma visão mais clara e racional dos povos primitivos até a nossa civilização contemporânea, e fazer uma ponte elucidativa para entender que dentro do nosso Pensamento do “Agora” ainda carregamos uma parte do “Pensamento selvagem”, ainda que domesticados, temos dentro de nós arquétipos tribais. 

Outro ponto de seu pensamento é a valorização da mitologia como espinha dorsal para entender a história dos povos antigos, legitimando a tradição oral e sua importância para constituição sócio-histórica, eles representam a subjetividade de um povo e suas ânsias mais profundas, por isso é fonte de conhecimento primário. Strauss queria comprovar que a estrutura dos mitos se repetem em todas habitações humanas, ou seja, a estrutura de como organizamos o pensamento é a mesma, independente da etnia, clima ou religião, indo contra a falácia de haver uma “raça superior”.

“Seus estudos sobre o mito (Mythologiques), cuja narrativa oral corria da esquerda para a direita num eixo diacrônico, num tempo não-reversível, enquanto que a estrutura do mito (por exemplo o que trata do nascimento ou da morte de um herói), sobe e desce num eixo sincrônico, num tempo que é reversível. Se bem que eles, os mitos, nada revelavam sobre a ordem do mundo, serviam muito para entender-se o funcionamento da cultura que o gerou e perpetuou. ” (Voltaire Schilling)

A influência do pensamento indígena em debate com questões filosóficas surge ao nos depararmos com sociedades que em suas estruturas sociais não comportam desigualdade e nem um Estado centralizador, então surge o questionamento: “qual a base estrutural que sustenta as relações econômicas, políticas, estruturas sociais”, “por que é diferente”, “existe um modelo analítico válido para todos? ”.

“O sábio não é o homem que fornece as verdadeiras respostas; é quem faz as verdadeiras perguntas. ”

Em Noção de Estrutura em Etnologia (1952) Strauss formulou Quatro procedimentos de análise da estrutura, para que esta possa ser considerada de fato uma estrutura, essa formulação foi calcada no modelo fonológico já apresentado anteriormente por Jakobson. Strauss acredita que combinado esses quatros procedimentos, ele poderia responder o funcionamento do inconsciente, que se repetiriam em muitas regiões do planeta, pois eles são manifestações de leis universais.

- Primeiro, a análise estrutural examina as infraestruturas inconscientes dos fenômenos culturais como sistemas; por isso uma modificação qualquer de um dos elementos leva a uma modificação de todos os outros.
- Segundo, considera os elementos da infraestrutura como "relacionados," não como entidades independentes; eles pertencem a um mesmo grupo, e cada um corresponde a um modelo da mesma família.
-Terceiro, procura entender a coerência do sistema; e assim tentar prever de que maneira reagirá cada modelo, caso se modifique um dos seus elementos.
- Quarto, propõe a contabilidade geral das leis para os testes padrões subjacentes no sentido da organização dos fenômenos e assim seu funcionamento possa dar conta de todos os fatos observados.

Diversas formas de vida social são substancialmente de mesma natureza, sistemas de comportamento, cada um dos quais uma projeção no plano do pensamento consciente e socializado, das leis universais que regem a atividade inconsciente do espírito.

O que diferenciou a abordagem de Le-Strauss com a velha escola antropológica está no seu foco nas relações e não na natureza. Estas relações precisam ser estáveis e constantes entre os indivíduos dentro do seu grupo. O conjunto destas constantes, são as invariantes relacionais, que ele nomeou de estruturas sociais, elas são o conjunto das mais diversas relações desde a familiar, laboral, religiosa, dentre muitas. Neste modelo se constata uma permanência de estruturas mentais dos povos “primitivos” e estes produzem os mitos, significantes, signos e significados. E por essa constante há um número limite de invariantes e que se repetem em outros povos. 

“O princípio fundamental é que a noção de estrutura social não se refere à realidade empírica, mas aos modelos construídos em conformidade com esta”

A Antropologia Estruturalista tem a definição do homem como estrutura, que está inserido em um mundo, no qual o sistema social é modificado. Lévi-Strauss através de seus estudos contribuiu e inspirou diretamente a psicologia e seus desdobramentos futuros, através de sua análise do simbólico, do mito, de processos inconscientes. Sua contribuição vai da Psicologia social, processos grupais até a psicoterapia, ele inspirou de Jacques Lacan até Michael Foucault.

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