sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Resenha para o texto Recordar, repetir e elaborar (Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise)


Freud inicia este texto sobre como houve alterações das técnicas psicanalíticas desde Josef Breuer até agora: desde Breuer e a catarse, a passagem da hipnose para o uso da associação livre, até o desenvolvimento sistêmico onde “abandona a tentativa de colocar em foco um momento ou problema específicos. Contenta -se em estudar tudo o que se acha presente de momento na superfície da mente do paciente, e emprega  a arte da interpretação principalmente para identificar as resistências que lá aparecem, e torna-las conscientes ao paciente”. Assim pode se revelar ao paciente as resistências que são para ele desconhecidas. Mas o objetivo desta técnica (como nas anteriores é “preencher lacunas da memória ...é superar resistências devidas à repressão.”

O autor fala sobre como foi importante a técnica da hipnose para a abertura para “processos psíquicos únicos dentro da análise” além de ter permitido a evolução da técnica. “Em certos casos, tive a impressão de que a conhecida amnésia infantil, que teoricamente nos é tão importante, é completamente contrabalanceada pelas lembranças encobridoras. Não apenas algo, mas a totalidade do que é essencial na infância foi retido nessas lembranças. Trata-se simplesmente de saber extraí-lo pela análise.”

As fantasias e os demais processos internos devem ser visto a parte de recordar e elaborar; já que “nestes processos, acontece com extraordinária frequência ser recordado algo que nunca poderia ter sido 'esquecida', porque nunca foi, em ocasião alguma notado – nunca foi consciente”. Assim o que o paciente assimila durante a análise é independente destas lembranças.

O paciente não recorda coisa alguma do que esqueceu e reprimiu mas expressa-o pela atuação ou atua-o... Ele o reproduz não como lembrança mas como ação; repete-o, sem, naturalmente saber o que está repetindo”.

Freud afirma que o começo do tratamento de um paciente é por uma repetição. “Enquanto o paciente se acha em tratamento, não pode fugir a esta compulsão à repetição; e, no final, compreendemos que esta é a sua maneira de recordar.” Mas o que interessa neste processo é a relação desta compulsão à repetição com a transferência e com a resistência. Por isso podemos afirmar que a transferência é apenas um fragmento da repetição, não só para o analista mas para todo o presente deste paciente.

“Se o paciente começa o tratamento sob os auspícios de uma transferência positiva branda e impronunciada, ela lhe torna possível, de início, desenterrar suas lembranças tal como faria sob hipnose, e, durante este tempo, seus próprios sintomas patológicos acham-se inativos. Mas se à medida que a análise progride, a transferência se torna hostil ou excessivamente intensa e, portanto, precisando de repressão, o recordar imediatamente abre caminho a atuação...as resistências determinam a sequência do material que deve ser repetido”.

Por isso hoje se entende que ao invés de recordar o paciente repete para poder resistir. “Devemos tratar a sua doença não como um acontecimento do passado, mas como uma força atual”, já que o paciente sofre e age a partir destas experiências reprimidas (“o paciente a experiência como algo contemporâneo ”)
“O repetir tal como é induzido, segundo a técnica mais recente, implica, por outro lado, evocar um fragmento da vida real; e, por essa razão não pode ser sempre inócua e irrepreensível”.

O autor afirma que o início do tratamento já é uma mudança em atitude frente à doença. Já que o paciente cria coragem para dar atenção aos seus problemas e buscar ajuda e a cura para eles. Então está tomada de consciência é vital para o início do processo terapêutico. “Não se pode vencer um inimigo ausente ou fora de alcance”.

“No curso do tratamento, novos e mais profundos impulsos instintuais, que até então não e haviam feito sentir, podem vir a ser repetidos.”

“Todavia, o instrumento principal para reprimir a compulsão do paciente à repetição e transformá-la num motivo para recordar reside no manejo da transferência. Tornamos a compulsão inócua, e na verdade útil, concedendo-lhe o direito de afirmar num campo definido... alcançamos normalmente sucesso em fornecer a todos os sintomas da moléstia um novo significado transferencial e em substituir sua neurose comum por uma ' neurose de transferência', da qual pode ser curado pelo processo terapêutico... a partir das reações repetitivas exibidas na transferência, somos levados ao longo dos caminhos familiares até o despertar das lembranças, que aparecem sem dificuldade, por assim dizer, após a resistência ter sido superada.”

A última etapa é dar ao paciente tempo para conhecer melhor estas resistências, se familiarizar, de modo a poder elaborá-la e só assim poder superá-la. Por isso o analista neste estágio nada tem a fazer se não esperar pacientemente. Esperar a superação deste estágio árduo na vida de seu paciente.

Humildemente Tiago André Marques Malta

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