segunda-feira, 4 de junho de 2012

Maldição de PUTA


Todo artista é uma puta! Não sei se devem entender isto literalmente, mas ser artista é isto mesmo: é vender algo muito precioso. Algo que muitas vezes não há como tarifar, mensurar e rotular em um sistema.
Quando amadores, em início de carreira, damos o melhor de nós sem esperar nada em troca. Nos abrimos da forma mais explícita e nem esperamos (às vezes mérito) ter um espaço, um bordel pra “trampar”, um palco para nos exibirmos.
Alguns de nós (e não somos poucos) rodamos a noite toda à procura do palco iluminado, perdemos grandes amores por causa do tal trampo – a cara-metade não vai entender que precisa dividir nosso amor com a plateia.
E a plateia não liga para como você está se sentindo; ela quer mais (ela quer sempre mais!) e não liga se seu dia foi bom ou ruim. Ela vai absorver tudo que você tem (ela quer devorar o seu melhor). Você é só um personagem e não tem direito de fugir disso; o seu direito é agradar às pessoas que não sabem direito realmente o que você é. Como uma prostituta, você não tem direito a gozar; gozar são aplausos e isso significa que eles estão gozando. Se eles gozam, você é feliz... se não gozam, é porque você, artista, não é gostoso ou já está gasto.
Imagina você dar aquilo de mais precioso que você possui num palco iluminado. Quanto mais luz incidindo na sua retina, menos dá para enxergar, ainda mais quando a plateia senta (em silêncio) e tem o direito à segurança da escuridão. Como vou saber de meu desempenho? Já imaginou uma puta frígida tentando impressionar seu cliente? É foda!!!
Exibindo, despindo sentimentos que nem sempre estamos sentindo naquele exato momento, gemido falso só pra agradar o outro.
Se sou uma puta, poderia falar que o produtor é um cafetão, pois negocia para o outro aquilo que é nosso, mas eu não o enxergo como uma pessoa má (sem generalizar), pois a plateia goza, o artista é gozado, mas este não mete e nem sente a pica entrando. Apesar de não sentir a dor de ser penetrado, ele também não tem prazer, pois na hora do SHOW não há tempo para o prazer.
Em suma, quem nasce piranha, morre puta ou é esquecida por aí, não sente prazer, salvo se consideramos o prazer do gozo (gozada) da plateia.

(Tiago Malta  - Rio de Janeiro 6 de maio de 2012)


Revisão: Alan Costa


Imagem: Columna Rota, de Frida Kahlo

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