terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Eu vou te ensinar todas as paradas


Não me lembro se foi exatamente essa frase, mas foi algo nessa estrutura que a personagem Acerola interpretado pelo ator Douglas Silva na série Cidade dos Homens fala ao ver pela primeira vez seu filho recém nascido. Eu vou te ensinar todas as paradas. Eu acho esta frase genial, pois seria uma das missões (ou tarefas) de ser pai, transmitir o que você sabe para a próxima geração. Uma das características que nos diferenciam de outras espécies é a transmissão de conhecimento. Não é que outras espécies não ensinam como caçar, mas nós, além de ensinar, podemos transmitir as histórias das nossas primeiras caçadas, o que torna a passagem de conhecimento uma história da família, que muitas vezes podem ser transmitidas aos netos.

Caçar foi apenas um exemplo alegórico, pois podemos ensinar qualquer “parada” qualquer vivência que tivemos em nossa história é passível de ser transmitida, não apenas o prático e laboral, mas também o lúdico e o emocionalmente experienciado. Ao longo de uma vida introjetamos diversos saberes, que se não forem passados adiante podem se perder para as próximas gerações, como se prepara um café com canela, como limpar um ventilador de teto, como se troca de roupa deitado. Quis dar exemplos aleatórios e muitos simplistas, para não direcionar o que se deve ser transmitido, pois tudo é válido.

E para que serve transmitir o que você sabe se todo o conhecimento possível já está na internet? Bem, na verdade, isso é uma falácia, pois o conhecimento particular, vivências e emoções daquele conhecimento só podem ser transmitidos diretamente. E mesmo que ele possa ser encontrado na internet, você pode discordar de mim, essa ponte que conecta gerações é criada e mantida nesse transmitir saberes. Sempre falo isso, não deixe que os outros façam o papel que você pode interpretar. Conectar o seu passado, com o presente dos dois para o futuro dele é possível ensinando as “paradas”.

Além disso, nunca se sabe o bastante e podemos aprender cada vez mais. É um continuum para que aquilo não se perca, além do mais, um dia ele poderá te ajudar, ou na pior das hipóteses, você pode não estar mais aqui, e ele vai ter de se virar para aprender.

Não existe uma técnica infalível para eu recomendar para transmitir o conhecimento até porque cada conhecimento é muito específico, vou exemplificar com duas tarefas práticas ao mesmo tempo: fazer um arroz e trocar um pneu, parecem dois exemplos muito diferentes, mas ambos tem um começo, meio e fim, ambos são úteis, fáceis de serem executados, mas necessitam de atenção e prática, e piadas a parte, ambos eu demoro o mesmo tempo para fazer. Eu recomendo que primeiramente a criança esteja por perto observando o que está sendo feito, em um segundo momento você irá executar a tarefa narrando o que está sendo feito, demonstrando as ferramentas e utensílios, no terceiro momento deixe que ele te ajude executando alguma parte da tarefa (descascando o alho ou pegando o macaco) e por último, dependendo da idade do filho e da confiança que ambos tem, deixe ele executar com a sua observação. Agora emule isso em outros exemplos que fazem parte de sua história e transmita para seus filhos.

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