sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Nise da Silveira com Carinho



Dedicado a Marcinha Biset que me fez enxerga-la num passeio ao Engenho de Dentro.

Nise Magalhães da Silveira nasceu em 15 de Fevereiro de 1905 em Maceió e se mudou aos 15 anos para Salvador, onde frequentaria a Faculdade de Medicina da Bahia. Na turma de 158 alunos do curso, era a única mulher. Na faculdade, viveu o cotidiano universitário ao lado do seu primo Mário Magalhães da Silveira, que mais tarde se tornaria seu marido. Ela ajudou a escrever e revolucionar da Saúde Mental. Ela ficou conhecida por humanizar o tratamento psiquiátrico e era contrária aos "tratamentos" utilizados em sua época.

Nise foi uma das primeiras mulheres a se formar em medicina no Brasil. Ela teve sua vida marcada pelos estudos sobre o comportamento humano e o tratamento de patologias psicológicas. Discípula de Jung, em 1946, ela foi pioneira na terapia ocupacional, método que utiliza atividades recreativas e artísticas no tratamento de distúrbios psíquicos.  A alagoana se destacou por usar a arte como uma forma de expressão e de dar voz aos conflitos internos vivenciados principalmente pelos esquizofrênicos, que tiveram suas obras expostas ao redor do mundo. A médica também foi pioneira ao enxergar o valor terapêutico da interação dos internos com animais. Ela permitia que seus pacientes cuidassem de vira-latas que viviam nos pátios do hospital e defendia o fim de tratamentos tradicionais, como o eletrochoque, o uso de drogas e o confinamento clínico. 

"Ele, o paciente, não entende a linguagem do mundo externo. Eu parto sempre do que o doente diz, escuta ou faz. Nem sempre considero aquilo que os livros falam. Nem mesmo os de Jung. No entanto, há uma grande coincidência no que o doente faz, sente e fala e o que Jung ensina. Por exemplo: Fernando Diniz em certa ocasião falou: "mudei para o mundo das imagens". Fernando era o único desses nossos pacientes que tinha uma cultura maior. Estava fazendo o colegial quando adoeceu. E tinha um racional desenvolvido; entretanto, ele se espantou com suas imagens devido a problemas emocionais. O inconsciente invadiu esse mundo racional onde ele vivia. Então ele diz espantado: "mudei para o mundo das imagens. As imagens tomam a alma da pessoa". Se o próprio doente diz que está tomado pelas imagens, porque você vai continuar buscar entendê-lo exclusivamente através de uma linguagem racional? Ele não vai te entender. Se importa ele em responder: que horas são? que dia é hoje? E outras perguntas semelhantes do mundo externo valorizadas pela psiquiatria tradicional. No prontuário de Fernando Diniz, muitas vezes encontrei escrito: desorientado no tempo e espaço. Entretanto Fernando Diniz lia livros de física atômica. Muitas vezes ia a livrarias acompanhado de um estagiário e escolhia livros. (Nise da Silveira em entrevista a Luiz Gonzaga Pereira dos Santos)"
Em 1956, Nise fundou a Casa das Palmeiras, o primeiro centro a inaugurar uma atividade para reinserir na sociedade indivíduos que tiveram alta. Sendo um passo fundamental na direção da luta contra os hospícios, que chegaria a seu ápice com a Lei Antimanicomial, de 2001. Do esforço da psiquiatra e de seus pacientes foi criado o Museu do Inconsciente, aberto até hoje no Rio de Janeiro junto ao Instituto Municipal Nise da Silveira, atual nome do Centro Psiquiátrico de Engenho de Dentro, onde a médica construiu seu projeto.


Em 1957, Nise é convidada por Jung para passar um ano estudando com ele no Instituto Junguiano, na Suíça, além de expor o acervo do Museu de Imagens do Inconsciente no II Congresso Internacional de Psiquiatria. Na volta ao Brasil, em 1958, ela criou o Grupo de Estudos C. G. Jung no Rio de Janeiro, que coordenou até morrer, em 1999.

O seu legado pode ser percebido até hoje, reverberado no Movimento Antimanicomial, que 
começou com ela.  De Nise da Silveira, muitos movimentos, exposições, filmes e ocupações surgiram na resistência contra os manicômios. Dentre eles a Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial (Renila), que luta contra o aprisionamento e a exclusão dos portadoras de transtornos mentais.

"estou de acordo de que estes velhos manicômios que se parecem prisões sejam implodidos" 

Nise foi uma pessoa à frente de seu tempo. Com uma sensibilidade singular, ela humanizou a forma como os clientes  (termo que ela utilizava para os usuários da rede de saúde mental)  eram tratados. Com força e vitalidade, ela enfrentou o preconceito, a resistência e o machismo. Com inteligência e paixão, ganhou notoriedade internacional e melhorou a qualidade de vida de muitas pessoas. Nise é urgente ainda nos dias atuais em toda comunidade de saúde mental, tanto para clientes e profissionais. Tia, obrigado por tudo.

Para conhecer um pouco mais sobre esta grande Senhora, assista ao filme Nise - O coração da Loucura, lançado em 2016:


Fonte: 
https://saude.abril.com.br/

https://www.huffpostbrasil.com/

https://www.brasildefato.com.br/






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